sábado, 24 de janeiro de 2009

Inventário

  • Minha recuperada vontade de sentir algo
  • Minha reinventada disposição de confiar
  • Minha re-ativa revolta
  • Meus reincidentes pensamentos perdidos
  • Minha renovada opinião de sempre
  • Minha re-formada vontade de experimentar
  • Meu renitente pragmatismo
  • Meu reestruturado ceticismo
  • Minha falta de pudor em me arriscar a me mostrar sem medo
  • Minha insistência
  • Alguém me dizendo “gosto de você”
  • Teu sorriso.


Na verdade, não os deixo.
Apenas te devolvo tudo o que nunca em verdade me pertencera.
Ao não portar mais isso que não é meu, garanto voltar a possuir de pleno gozo das faculdades mentais.

Alan Robert
24-01-2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Ócio Vingativo


Madrugada de quarta para quinta-feira, 0h30. Saio de casa apenas para não permanecer lá. No caminho decido o trajeto. Irei ver o mar, talvez o amanhecer. Ainda não sei bem. Só sei que não posso ficar parado em meio às minhas coisas de todo dia e do dia todo. Maldita tevê que resolveu dar pane justo n'um dia como hoje.
Mas a culpa disso é só minha, devido ao estilo e diretrizes de vida que escolhi acreditando serem os melhores e mais coerentes. Só não posso mentir: É triste sim.
Quisera eu tais escolhas não fossem tão pesarosas, que eu tivesse optado por mais leveza e menos preocupações, mas isso não seria nada condizente com o que realmente penso e agir de má-fé para com meu íntimo poderia resultar em maior sofrimento que mera solidão. Menos que escolher viver na tristeza, prefiro acreditar que não vivo na mentira.
Mentir.... mentir é tão fácil e eu sabia fazer tão bem... Mas quando escolhi eu mesmo não mais mentir, desaprendi a reconhecer a mentira alheia. Apenas sei que ela existe, mas isso não é suficiente.
Se quero um mundo de sinceridades perfeitas, de jogos sem trapaças ou blefes? Claro! Quem não gostaria disso? Utopia? Óbvio!... Só que desprendi também a balancear meu desejo com a realidade.
Não que eu seja um alienado ou sonhador, apenas finquei meus pés em um terreno que só pertence a mim e tornei-me absolutamente desarticulado no lidar com o que me cerca.
Uma série de decisões que me afasta grave e gradativamente mesmo do que tenho afeto.
Não, não é um lamento, tampouco um pedido de desculpas. É, no máximo, o desabafo de alguém um tanto triste, definitivamente sozinho, mas que _por mais paradoxal que possa parecer_ ainda acha melhor ser assim.

Alan Robert
08.01.2009

Crédito da foto: Teca Mota em http://www.flickr.com/photos/teca1000/1790010550/

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

PREVIDÊNCIA

“ler se lê nos dedos
não nos olhos
que os olhos são mais dados
a segredos”
(Paulo Leminski)


Fase terrível na vida do ser humano hodierno essa tal adolescência. E pensar que, diferentemente da infância e da idade adulta, esta foi inventada pelo próprio homem com a única intenção de batizar um momento de dúvidas e decisões.
Fase linda essa na vida de um ser humano, de (se) descobrir, (se) experimentar... Essa juventude plena, pós-infância, pré-maturidade; quando o novo se mescla ao abandono, a curiosidade se junta à certeza, quando o risco se expõe rente aos ensinamentos adquiridos. Pena a nossa sociedade ter abandonado os tão úteis ritos de passagem...
Talvez por isso hoje ocorram tamanhas distorções a ponto de haver quase que somente jovens precoce e falsamente “amadurecidos” e adultos insistentes em não abandonar o que já não mais lhes pertence. Chamem de “síndrome de Peter Pan”, “adultescência” ou como quer que os especialistas batizem em seus estudos ou publicações... A grande surpresa em mim se dá quando encontro o que deveria ser não mais que o normal.
É quando me surge essa menina e, como um sem-número de moçoilas que lhe são contemporâneas, ela “é bem madura para a sua idade”. Normal. Só não vejo por que comprar tal idéia... Mas sua característica principal está em seu rosto. Bonito, sim, como todo rosto jovem e saudável, mas _sobretudo_ expressivo. Ainda não sei se proposital ou involuntário, mas ela expõe com total transparência alegria, satisfação, curiosidade, assombro ou repúdio. E esse rosto tão revelador só faz ressaltar o que há de mais forte: o olhar. Nela, chega a ser “covardia” falar disto, pois são dois grandes observadores castanhos que denotam tudo o que a moldura de seu rosto exprime (característica admirável não importa a idade que se tenha, mas nela é diferente).
Essa “maturidade” que hoje é tão cobrada e louvada nos jovens nos deu uma população de garotos de olhos precocemente embotados, tendo perdido coisa que mesmo os adultos que tardiamente ainda buscam “esticar” ad infinitum sua puerícia não conseguem recuperar: o brilho no olhar que ainda guarda alguma inocência.
E os olhos dela brilham de alegria, de satisfação, de assombro e de repúdio. E isso não há de ser proposital.
Nesse brilho quase há como se prever o futuro. Exagero? Certamente! Mas não me escusarei por meu entusiasmo. Eu já tenho também os meus olhos opacos de _se não desesperança_ um certo desânimo ávido por novidades que sei que virão em cada vez menor quantidade... O futuro que se vê em seus olhos é o dela. O olhar afiado quando calada mostra bem que ela está ali para (se) descobrir e (se) experimentar e mesclar o novo ao abandono, juntar a curiosidade à certeza, se expor ao risco tendo toda a bagagem adquirida sem o medo de se trair, pois ela observa antes o solo onde pisa.
Não nego haver também em mim uma certa vontade de acompanhá-la em seus passos e “vampirizá-la” e revivenciar através desse olhar o brilho já perdido no meu. Mas esse não é meu papel nem meu estilo.
Meu papel talvez seja apenas louvar que ainda haja pelo menos uma jovem como ela, com juventude no semblante e avidez no olhar... ou ainda meu papel nem seja esse. Afinal, por que louvar o que deveria ser a normalidade?
Peço então a liberdade de alterar minha afirmação e retificá-la: Meu papel é o de saber reconhecer nela o que ainda deveria ser para que meus olhos e rosto ainda consigam expressar meu assombro e repúdio a toda distorção instalada.

Alan Robert
02-07/01/2009