segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uma Tarde em Higienópolis

http://www.4shared.com/file/XGsqFijc/Uma_Tarde_em_Higienpolis.html


Bate-papos, nerdices, risos e muita música em uma tarde sem fazer nada na casa do Diego, onde estávamos também presentes eu, o JP e o Phill.

As gravações têm ruídos de fundo (havia uns colegas do Diego trabalhando ao lado), algumas interrupções, mas acho que o que vale aqui é o registro desse clima descontraído e com cheiro de cueca!

Particularmente, achei a parte mais divertida do registro a conversa entre a música "Sonhos" (Peninha) e "Moça" (Wando), quando falamos dos compositores.

Espero que vocês, mais que gostar, se divirtam.

Seguem as músicas e créditos:

1. Esperando Aviões (Vander Lee)
2. Mucuripe (Fagner)
3. Lembranças (Kátia)
4. As Dores do Mundo (Jota Quest)
5. Sonhos (Peninha)
6. Moça (Wando)
7. Kriptonita(Ludov)
8. Bicho de Sete Cabeças (Geraldo Azevedo)
9. Trocando em Miúdos (Chico Buarque) + Bandolins (Oswaldo Montenegro)
10. A Voz (Vander Lee)
11. Palavras e Silêncio (Fagner & Zeca Baleiro)
12. Dezembros (Fagner & Zeca Baleiro)
13. Caleidoscópio (Paralamas do Sucesso)
(vinheta)

sábado, 2 de outubro de 2010

RIVAL (por Guilherme Bastilho)

Homem já é bicho bobo sozinho, e quando se junta, então?, fica complicado. Realmente, às dez da manhã de uma segunda-feira, entre um cigarro e outro, esperando alguém que chegaria mas não chegaria, não havia muito o que fazer senão conversar e - naturalmente - falar dos outros. Melhor do que qualquer exercício matinal, ouso dizer até que poderia se tornar uma atividade regular. Um esporte. Um esporte olímpico.

Enquanto esperávamos o bourbon, que no fim das contas não veio, olhávamos e não víamos nada além de gente velha. Bem mais velha. E isso em uma fila. Eu me senti exatamente no meio da História do mundo: somando, provavelmente havia mil anos para cada lado de onde a gente se encontrava. Exceto por uma figura que, justamente por se destacar das demais, chamou a nossa atenção.

Meu amigo é um grande conhecedor de música. E simpático que só. Eu queria ser simpático, mas só finjo ser comunicativo - o que me dá alguns minutos de conversa com qualquer um até o temido silêncio. Mas ele não... E falando de Ednardo, Zé Ramalho, chamou a atenção da moça. Não tão moça assim, é verdade, mas pelas circunstâncias tratava-se de uma garotinha.

E a conversa seguiu. E a tal moça - loira, calças apertadas (por Deus, a mulher foi embalada a vácuo entre uma embalagem e outra de Café Palheta), óculos escuros e certo charme. E a mulher se entrosa, mas se entrosa tanto que em meia hora todos já parecem velhos conhec... Não, velhos não, já existem velhos demais na história. Enfim, parecem se conhecer há muito tempo.

Homem já é bicho bobo sozinho, e quando se junta, então? Foi o que aconteceu. Entre histórias de desilusão que (não) terminariam em um apartamento em Pendotiba, começam aqueles movimentos de sobrancelhas que só nós, canalhas e cafajestes, conhecemos.

- Vai que é tua - disse.

Qualquer incentivo nessas horas é o estopim. Pensar com a cabeça de baixo é sinônimo de que vai dar ruim. Mas o circo está armado. A barraca eu não sei, e sinceramente também não me interessa. Mas encontrar a louraça belzebu provocante, cuja tatuagem bem localizada indicava o mapa da mina, só faltava piscar feito um neon apontando "AQUI!", era questão de tempo.

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O capítulo final da saga é breve. Tão breve quanto a perspicácia da nossa amiga, a quem encontramos cercada por seus amigos da terceira idade. Acho que fiz mal em sentar ao seu lado, pude ter atrapalhado ali uma noite de aventura, mas enfim... Katia Flavia é fatal, e saca da bolsa um álbum de fotografias onde mostra a família. A mente maldosa do homem pensa: "Ela apresentou a todos, filho, filha... Não mencionou o marido".

Não havia mencionado também que era uma porta. Mas hipnotizado pela tatuagem, o músico mostra tudo: "Aquilo é um violão. Aquilo é um baixo. Aquilo é uma bateria. Aquilo é um microfone. Tá vendo esse desenho aqui? O nome disso é casa. O que tem na casa? Cama, sofá, conhece?", e assim por diante.

Até que o papo aconteceu bem. Papo de pouco tempo, mas, papo sério, se fosse mais tempo ia dar ruim mesmo. Eu provavelmente me levantaria - se não caindo em gargalhadas, revoltado com o mundo. O metrô da Cinelândia era logo ali, questão de tempo até eu cometer o ato final: suicídio.

A pepeca foi dançar, chamou o amigo... O amigo foi atrás, atiçado pelas ancas largas da muchacha, que bem poderia ser de Copacabana, é verdade... Podia ser um show do Caetano Veloso. "VOCÊ NÃO ENTENDE NADA" se encaixaria perfeitamente, valendo inclusive para piadas babacas. Se o camarada dissesse que dois e dois são quatro, ouviria um "HÃ?"

O show do Capital Inicial proporcionou alguns bons momentos naquela noite, entre piadas que passaram batidas e algumas explicações e aulas básicas de conhecimento: chão, teto, mesa, cadeira etc. Dinho Ouro Preto, que havia caído do palco e batido a cabeça, deixou de ter a comiseração de Katia Flavia. Tudo porque ela sumiu... Meu amigo se deu mal. Quem disse que a pepeca "sentiu muito pelo Dinho" naquela noite?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Anseio/Ensaio tardio

Não pertenço a nada disso
Não faço parte de nada disso
Não sou nada disso

Eu apenas fui

Tudo aquilo que surgiria
Tudo aquilo que presumia
Tudo aquilo não havia

O dito
O não dito
O bendito
O maldito
O interdito

Nada daquilo
Tudo isso
O veredicto

Fui tudo aquilo que não houve
Não sou nada disso

E pelo infinito restante
O tempo corre explanando:
Você é o que não há

(Alan Robert e Ana Paula Ruiz)


PS.: Muito obrigado, Ana.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

VIDE O VERSO (ou "Parceria")

O que não sinto, prosa.
O que não penso, verso.
O que construo, prosa.
O que abstraio, verso.
O que categorizo, prosa.
O que fragmento, verso.
O que planejo, prosa.
O que devaneio, verso.
O que aceito, prosa.
O que é conflito, verso.
O que durmo, prosa.
O que descanso, verso.
Onde piso, prosa.
Quando vôo, verso.
O que escrevo, prosa.
O que escrevo, verso.
O que leio, prosa.
O que leio, verso.

Eu, prosa.
Ela, verso.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

CÍRCULO III

Esqueço do mundo
Escuto apenas o silêncio
Esqueço da morte
Lembro apenas do silêncio
Cego, profundo, largo
Vazio, imenso
Me largo de tudo
Me agarro apenas no silêncio
Me esqueço da vida
Me acudo no silêncio
Cego, profundo, largo
Vazio, imenso
Me esqueço da vida
Me agarro apenas no silêncio

15 de Junho de 1993

sexta-feira, 4 de junho de 2010

FUMAÇA



Meço minha paz por meus cigarros.
Se a brasa iluminar cerca de cinco centímetros ao redor
E se, do cinzeiro, eu conseguir ouvir o papel queimando
E se, às três da madrugada, ainda houver no maço o suficiente para chegar a manhã.
Aí sim. Estou em paz.

terça-feira, 18 de maio de 2010

BLANCHE

O teste psicotécnico diz que se eu não escolher o vermelho é porque tenho problemas.
Não gosto de problemas.
Não gosto de ter problemas.
Não gosto de perceber que posso ter problemas.
Não gosto de saber que tenho problemas.

Em contrapartida, não gosto de ver minhas escolhas guiadas por fatores
Que vão além do meu controle mais objetivo.
Que vão além das minhas negações.
Que vão além das minhas ênfases.
Que vão além da minha consciência.

Apesar de saber que essa mão _forte, grande e invisível_
que me empurra e me desvia
é também minha,
Me aflige constatar que não a controlo,
Que não a domino.

Fico no pêndulo destas instâncias psicológicas
Entre a pungência da inércia do que me fora automatizado
E a voluntária ilusão do controle.
Se somado a isso houver a providência (quase e talvez) premeditada do acaso
O que seria factual se torna inevitável e infalível armadilha.

Só que após me ver inelutavelmente capturado,
Tendo a preferir que tais forças
Que de tão incrustadas no meu formar definem o meu querer e agem sozinhas
Definam o rumo das ações.

É justamente quando elas decidem que tais estratégias
_fuga ou adaptação_
partem do racional.

É, eu tenho um problema.