segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Deep

Daquelas sensações que você sabe que só vai ter uma vez na vida.

Quando bem mais novo, com aspirações a poeta, escrevia sobre o que ainda não havia vivido, era tudo não mais que idealizações, uma destas era sobre os cabelos da mulher que eu sonhava um dia ter, que em meus jovens anseios eram em ondas como um mar denso e noturno no qual eu não me importaria de navegar, me perder e me afogar. Culpa das grandes divas que me extasiavam (em especial a Gilda de Rita e a Mulher-Gato de Julie).

Passado certo tempo eu me dei conta de que tal perfeição era truque cinematográfico, mas aí a realidade já se tornara bem mais interessante. Nada como os cabelos desgrenhados da mulher desejada durante e após o amor, superando qualquer produção que elas façam ou qualquer intervenção térmica ou química que alguém (que deve odiar as mulheres) invente e que elas caiam nessa (muitas vezes chega a dar até tristeza)...

Até que, lá pelas tantas, você a vê e lá está a densidade, lá estão as ondas, lá está a escuridão. Pior (ou melhor) que isso, lá está aquele caimento que parece editado, parece proposital, tamanha a medida do mistério de ocultar e revelar um rosto que toca a perfeição. Truque de cinema? Não, tudo isso acontece diante de seus olhos, em um efeito que não pode ser classificado como menos que hipnótico. E você se encanta, e há o encontro. O roteirista só pode estar maluco, mas não há roteiro.

Durante tal encontro, você a vê por ângulos que sua mente pueril só tentava imaginar e que seus olhos adultos já não esperavam mais ver e, durante instantes, suas mãos o levam a navegar, a se perder e se afogar em um mar negro, noturno, de ondas suaves e perfeitas que as estrelas do celuloide só eram capazes com equipes cuidando de seus efeitos.

Então você sabe que atingiu um ponto que poucas pessoas conseguem: a realização. Ainda que nunca mais a tenha, ainda que nunca mais se repita.