segunda-feira, 4 de junho de 2012

PORQUE EU NÃO DESACREDITO EM JESUS, SÓ NO QUE FALAM DELE

1. "Garrincha chamava todos os seus marcadores de 'joão' por não fazer diferença quem seria a marcá-lo."

Mito. O que aconteceu foi que, na Copa de 58, Garrincha, aquele rapazote do interior, não fazia ideia de como se pronunciavam os nomes daquele monte de gringos que iriam marcá-lo. Não era e nem se tornou um hábito. 

2. "Michael Jackson compôs 'Ben' para o seu rato de estimação, que era seu único amigo e que foi morto por seu pai como castigo."

Mito. Quem compôs "Ben" foram Donald Black e Walter Scharf e sim, a canção era sobre um rato, mas era apenas uma música de encomenda para um filme homônimo de suspense no qual um menino tinha o tal rato como amigo. Dado curioso: Michael foi o "reserva", a canção não fora feita para ele, que apenas substituiu quem seria o intérprete original.

3. "Ozzy Osbourne soltava morcegos no palco e arrancava-lhes as cabeças a dentadas."

Mito. Uma vez alguém jogou um morcego no palco e Ozzy, achando que era de brinquedo, o mordeu (o que lhe causou diversos problemas de saúde). Ah! O lance de arrancar a cabeça da pomba aconteceu de verdade, mas foi porque ele queria justamente fazer troça com o incidente do morcego. Coisas do METAL....

mas... e o item 4?

Sim, eu sou ateu desde que me lembro e SIM, tive uma fase de "busca espiritual" em que, mais que efetivamente acreditar, eu QUERIA acreditar. Bem... eu não consegui, mas não me ressinto, aliás, aprendi duas coisas importantes: a respeitar mais e a questionar ainda mais. Esta fase foi breve, do fim da adolescência ao começo da juventude (entre os 17 e 23 anos, para ser mais específico).

O que escreverei aqui é uma espécie de "resposta" ao que vejo muita gente de bem fazendo por aí em ambos os lados, o dos que creem e o dos que não creem.

Eu não vou dizer que eu realmente acredite em Jesus, mas não vou negar que gosto muito da ideia da existência desta pessoa um dia no mundo e que tal ideia me é não apenas verossímil como perfeitamente possível.

Duvidar ou ainda não acreditar na existência de Jesus me soa como não acreditar na existência de Sócrates. Ambos só chegaram ao nosso conhecimento através de relatos de seus discípulos e mesmo de seus críticos... mas alguns dirão: "Platão e Aristófanes tiveram contato direto com Sócrates; Mateus, Marcos, Lucas e João não!". É, eu sei, mas vamos combinar que a Grécia era bem mais adiantada em produção literária que a Galileia, que aparentemente preferia a transmissão oral de conhecimentos. 

Consideremos também um dos outros argumentos do pessoal do "Jesus não existiu": falta de registros. Bem... Tanta gente por aí nasce, cresce, faz coisas muito legais e morre sem ninguém saber hoje no Brasil ou nos EUA ou na Alemanha, o que se dirá há dois mil anos em uma terra de gente iletrada. E tanta gente tem seus registros postos em dúvida por terem sido feitos em um modo ultrapassado ou que pereceu. Não duvidem, eu nasci na capital do Rio de Janeiro, em um de seus maiores bairros (a Tijuca), em um hospital do governo, pior: em um hospital MILITAR, e tive que "atualizar" minha certidão de nascimento pois ela havia sido preenchida à mão e eu poderia perdê-la. Hoje tenho uma versão feita por uma impressora, mas acho que falta uma "alma" a ela.... enfim, divagações...

Não duvido que uma figura do porte e com as ideias de Jesus e chamado Jesus tenha andado por aquela área naquela época. E não duvido que as pessoas falassem muito a seu respeito. É aí que entra o verdadeiro problema... já diz o velho ditado: "quem conta um conto aumenta um ponto". Imaginem então a história de um cara que pode ter sido uma grande insurgência religiosa sendo recontada por uma ou duas gerações até que alguém resolvesse colocar por escrito! Belo fator de complicação, hein!

Pensemos nos exemplos anteriores. Mané Garrincha ainda era vivo quando surgiu a "lenda dos joões" e ela permanece até hoje, mesmo ele mesmo tendo desmentido a história. Michael Jackson era só um cantor, mas há quem chegue a atribuir milagres a ele, o que se dirá uma história sobre uma música. Ozzy é uma figuraça que se alimenta e se promove com histórias desse tipo; ele as nega, mas se diverte a valer com cada uma dessas!, não é à toa que ele se intitula de "o príncipe das trevas"! SAVE OZZY! E eu nem falei da Lady Di! 

Pensemos um pouco, meus caros, e vou usar as metáforas futebolísticas que tanto prezo... quantas vezes vocês não não ouviram alguém contar que um jogador de futebol "driblou o time todo" para fazer um gol? Ou talvez que ele tenha tido que "passar por umas 40 pessoas para chegar ao gol"? Sabemos que em campo só há 23, certo (22 jogadores e o árbitro)? Essas afirmações são mentiras? O jogador não driblou mesmo vários adversários e não fez o gol? Não sabemos que é só um exagero? Não sabemos diferenciar a verdade não da mentira, mas da invenção? 

4. "Jesus Cristo andou sobre as águas."

Ao ler tal passagem, eu não duvido que ele tivesse ido ao barco dos amigos pescadores mesmo sendo um carpinteiro. São amigos, ora! Estava lá, no alto do monte e veio a tempestade, era noite, o amigo foi salvar o pessoal que estava na água, houve desespero, os alcança, Pedro cai na água, E AGORA, JESUS? Tampouco duvido que Jesus tivesse sabido como manter a calma e resgatar o amigo à deriva como um verdadeiro salva vidas, animando o amigo com palavras como "estou aqui", "eu te ajudo", "me dê a mão", "não solte", e coisas do gênero (em aramaico, claro). Mas quando leio que "Jesus foi ter com eles caminhando sobre a água" e que ainda desdenhou do afogamento de Pedro ("Homem de pouca fé, porque duvidaste?") ao invés de alguém que disse ao amigo se afogando "cara, não desiste, tenha fé, estou aqui, nada vai acontecer de mal" e que pessoas inteligentes e de bem preferem acreditar nisso... eu fico confuso. Não em relação a Jesus, mas em relação ao que acontece com as pessoas desde tempos imemoriais: preferir acreditar em uma história fantástica que cria mitos ao invés de perceber a beleza da simplicidade das histórias reais. É a mesma ideia de que as pessoas querem dar um "beijo de cinema" (ou um "orgasmo de cinema", não é, revista NOVA?) ao invés de dar um legítimo beijo amoroso sem enquadramentos perfeitos, giros de câmera, maquiagens e posicionamentos marcados dos atores.

Não duvido da religiosidade de Jesus. Talvez ele realmente se considerasse o filho do deus no qual acreditava, talvez ele usasse isso para reforçar a sua imagem como líder de sua religião, talvez apenas as pessoas dissessem isso dele. Eu só sei que a quase totalidade do que ele disse eram coisas sobre tolerância mesmo com quem não lhe era partidário religioso (lembram da samaritana? pois é), amizade, respeito para com todos, humildade, e todas essas lições ele as deu sem precisar de nenhum milagre e eu gosto da figura dele por conta disso e da firmeza de alguém que parece ter se doado inteiramente ao que acreditava sendo isto algo bom e digno. Em caso de dúvidas, consultem a Bíblia com olhos atentos. Minha mãe sempre me ensinou a não aceitar respostas prontas e que não é só porque algo está escrito é verdade. Todo mundo pode escrever qualquer bobagem. Mesmo eu. Mesmo com a melhor das intenções. Especialmente com alguma intenção premeditada.

Um abraço.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

MARCHA DAS VADIAS

Antes de começar o meu texto eu gostaria de esclarecer certos pontos que eu pediria que não saíssem do pensamento dos amigos que se aventurarem a ler.

1. NENHUM homem, mas NENHUM MESMO, tem o mínimo direito de abusar de uma mulher.
1.1. Entenda-se por abuso as abordagens sexuais não autorizadas.
1.1.1. Autorizada vale (quase) tudo (afinal, quem sou eu pra dizer que certas coisas que aparecem na revista NOVA não funcionam?).

Ok, tendo dito isto, comecemos.

"A Marcha das Vadias é um movimento internacional de mulheres criado em abril de 2011 na cidade de Toronto, no Canadá, em resposta ao comentário de um policial que disse que, para evitar estupros no campus, as mulheres deveriam parar de se vestir como “sluts” (vadias, em português)." [LEIA AQUI]

As palavras do tal policial são algo que, sem sombra de dúvida, merece o repúdio de toda a sociedade. Eu gostaria de crer que estamos todos de acordo com a ideia de que quem causa o estupro é o homem e não a mulher, pouco importando se ela está nua ou de burca. E é isto que deve ser posto em questão. O meu ponto é: tenho visto muitas moças por aí que, por mais bem-intencionadas que elas estejam na defesa de seus direitos, andam confundindo um pouco a razão de tal defesa. Como?

"Mulheres ofendidas contam o que acontece quando os homens pensam que a roupa é um convite" [LEIA AQUI]

 A reportagem cita vários exemplos, alguns casos de violência e, só a constar, ocorreram inclusive em lugares ditos "civilizados" como Paris, mas esta foi a menor parte da matéria. O foco era a "confusão" que uma roupa pode causar em interpretações alheias. A entrevistada principal, Simone Grazielle, produtora de eventos, fora confundida com uma prostituta em um desses eventos (compreenda-se "casa noturna/boate paulistana altas horas da noite") por estar vestindo short e bota e por ter "caprichado na maquiagem". Estejam os ainda leitores atentos ao fato de que ela foi apenas ABORDADA. Não foi agredida nem estuprada. Ela se ofendeu simplesmente por ter sido confundida com uma trabalhadora de um setor que não era o dela. Sim, por menos que algumas pessoas gostem ou reconheçam isso, prostitutas são trabalhadoras e o tipo de roupas e maquiagem que elas usam são como seus uniformes de trabalho, permitindo que elas sejam reconhecidas como profissionais. Aí eu pergunto: "Se ela fosse uma prostituta, ela poderia ser abordada?" Claro que sim! E o possível cliente DEVE perguntar quanto é o programa. O que ele não pode é achar que, por ela ser uma prostituta, ela seja automaticamente obrigada a ter sexo com ele. Uma premissa simples em qualquer tipo de prestação de serviços: o prestador só é obrigado após o contrato ser firmado e estabelecido. Simples assim. Prostitutas não merecem ser tratadas com respeito por serem mulheres. Merecem ser tratadas com respeito por serem PESSOAS.

 Retomando o ponto "as roupas"... Ser confundido com outra coisa por conta dos trajes... quantas vezes eu já não vi ou mesmo aconteceu comigo. Punks sendo confundidos com mendigos; gente de branco sendo confundida com médico... recentemente, no Recife, eu estava em uma loja em um shopping com um amigo e uma moça veio me perguntar o preço de um determinado item. Ora, como eu saberia? Mas eu fui olhar um dos funcionários o estabelecimento e lá estava ele de camisa cinza de botões, calça azul marinho e sapato preto. Bom, minha calça era jeans, mas eu não poderia culpar ninguém pela confusão ou mesmo me sentir ofendido, eu estava "uniformizado" no ambiente de trabalho alheio, o que me move a perguntar: Qual é a real ofensa em, não havendo nenhum tipo de agressão, ser confundida com uma prostituta?

 Outro ponto no qual discordo de algumas das motivações de algumas apoiadoras da Marcha é: O que diabos e uma "vadia"? Não vou dar uma de inocente e fingir que não sei, mas esta é a questão a ser aprofundada. Um cara usa um termo idiota, falemos deste termo. "Slut", que não significa "vadia", mas que em sua origem etimológica tem mais a ver com "suja". A tradução do termo por "vadia" se deu obviamente pela conotação sexual depreciativa ser similar. Em nossa (ocidental, pelo menos) linguagem machista, "sujeira" e "ócio", no que se referem às mulheres têm uma ligação com "sexo". Não vou tentar mudar o nome da Marcha, não é isso. Apenas acho um tanto estranho. Soa para mim como se o movimento negro resolvesse fazer a "marcha dos macacos" ou os gays a "marcha das bichas (ou "dos viados")" ao invés de suas manifestações serem pelo uso correto de termos que não firam a dignidade do que representam. Quando eu vejo uma mulher dizendo, ainda que em uma postura da linha "a melhor defesa é o ataque", "somos todos vadias", eu penso: "será que ela se acha realmente superior a alguma outra moça que tenha optado por ser mais livre sexualmente?". Eu não sei, não apenas questionamentos.

 Mais um ponto atinge diretamente essas moças que têm uma relação mais solta com o sexo. Pessoal, não vamos esquecer uma coisa fundamental aqui: ROUPAS COMUNICAM SIM! Quando nos vestimos de determinados modos estamos dizendo um pouco de quem somos, de nossas preferências, de nossa "tribo". Sabemos quando vemos um rockeiro, um funkeiro, um pagodeiro, um "mauricinho", um "playboy" e por aí vai... E o que nós temos a ver com o modo como as outras pessoas se vestem? Errou que respondeu "NADA"... e também acertou. Nós buscamos identificação com o nosso jeito, mas se não há essa identificação, aí sim não teremos nada a ver com isso. E há moças que gostam de expressar sua liberalidade sexual através de suas vestes e ELAS TÊM TODO O DIREITO DISSO. Eu posso achar um pouco demasiado, posso achar que "ela não é moça pra mim". O que eu não posso achar é que 1. ela é uma "vadia" e 2. que ela ser assim me dá direitos automáticos de abordá-la com contatos sexuais sem a sua permissão. E eu tampouco posso achar que ela não deva se vestir assim... e vem a questão: Os homens devem permanecer totalmente anestesiados a uma mulher que se vestiu PARA FICAR BONITA/SEXY? Cobiçar uma mulher se tornou o grande pecado ao feminismo de hoje? Na mesma matéria citada anteriormente: " 'Será que se eu transar no primeiro encontro ele vai me achar uma ‘vadia’? E se eu vestir uma calcinha fio dental, ele vai pensar que sou dada?' " Estas são dúvidas femininas? Ou são dúvidas de mulheres que se preocupam demais com o que homens machistas pensam? E, repito, qual o real problema em ser mais "proativa sexualmente" (o eufemismo aqui foi inevitável, perdão) e querer e gostar de expressar isso inclusive com suas roupas? Devemos nós (homens) nunca mais repararmos em vocês?

 Por fim, eu apenas gostaria de dizer que acho a manifestação e o modo como ela é feito muito válida. Quando uma mulher sai sem camisa ela mostra que o mostrar ou não do corpo é menos que uma questão de "tabu social": é somente uma questão de CONTEXTO, e é em nome desde contexto que eu peço que algumas revejam suas motivações particulares sem perderem o ímpeto da manifestação e da busca pela igualdade e de exporem como certos julgamentos podem efetivamente ferir as pessoas e até matá-las, literalmente.

 Não, minhas queridas amigas, vocês não são vadias e nem as "vadias" são vadias. Assim como eu não sou um macaco por ser negro. Assim como um homossexual não é uma bicha. O nome da passeata não me choca, apenas me confunde.

Um beijo deste aqui que tanto ama as mulheres.

Pode começar o apedrejamento.