quinta-feira, 2 de agosto de 2012

SIMPLES II (ou Coletânea Sensorial Não-verbal Translada e Resumida em Signos Lingüísticos)


Teus olhos grandes de um castanho vivo e longe.
Tuas mãos pequeninas de dedos suaves.
Uma contradição.
Não conseguires conter tudo aquilo que percebes.

Meus olhos pequenos e míopes de um castanho comum
permanentemente distraídos e protegidos por lentes externas.
Minhas mãos grandes de dedos longos moldadas e habilitadas
a cumprirem uma função específica.
Uma frustração.
Não conseguir perceber o que está ao meu alcance.

Não opostos, mas complementares.

Tua fala acelerada, entrecortada,
veloz e ricocheteada como um átomo
solto em um ciclotron
esperando colidir e fragmentar-se.
Uma urgência.
A pressa pela juventude adiada.

Minha quase mudez grave e rouca
interrompida por longas, lentas e verborrágicas análises,
como um livro de contos embolorado
em uma estante empoeirada de alguma biblioteca.
Uma conformidade.
A constatação da maturidade já premente.

Mais que características, quase caricaturas.

Até o encontro de olhos
Que não se buscam, mas se mesclam,
De mãos que se encaixam
e se protegem.
De lacunas
que se preenchem.
De toda um pluralidade
que almeja o singular.
De dois, que são variantes,
a um, que é binômio.
De conjuntos
que se intercedem
e do novo conjunto
formado pela interseção.

De tudo o que se pensa
A tudo o que se vive e sente.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

PLANOS II


Diz que vai me dizer tuas verdades
Me conta o que há para contar
Sorri para mim cada sorriso teu
Me abraça o que há para abraçar
E conta comigo o que for para compartilhar

Cada ponto,
Cada vírgula,
Cada verbo de ligação,
Cada oração coordenada,
E nosso texto, como uma ata,
Não terá parágrafos
Pois, ainda que digressivo,
O assunto será uno: nós.

E o que for de chorar,
De entristecer, de lamentar,
De silenciar, de calar até,
Não chore para mim.
Não silencie para mim,
mas comigo,
Pois cada momento teu
Peço que seja também meu.

Faz o que for para se fazer
Sente o que for para se sentir
Sonha o que há para se sonhar
Me beija cada beijo teu
E fica comigo cada instante que há para se existir

E o que é breve,
O que é fátuo,
Sirva apenas para pontuar e relevar
O enredamento dessa trama perene
De modo a nos lembrar
Que o efêmero
Só passa com a permissão do esquecimento.

Me apresenta o que é teu
Que não sou eu,
Pois o meu eu já é teu
E já o apresentaste a mim.

30/06/2007