domingo, 11 de novembro de 2012

UM AMOR PARA SEMPRE

Um amor para sempre, ma belle? Pleno? Mútuo? É isso mesmo?
Melhor que ninguém, você deveria saber que isso não passa de literatura. Romantismo. Século XIX. Feito para entreter senhoras. Que caiu em desuso. Foi suplantando pelo Realismo. E não é o que acontece sempre? O realismo detalhista e esquemático se sobrepondo qualquer ilusão romântica que possamos ou sonhemos ou ousemos ter? Será que vale tanto a pena querer crer nisso?
Quando você usa a sua voz para me dizer aquele pequeno trecho daquela canção _"je préfère, de temps en temps, je préfère le gôut du vin, et le gôut étrange et doux de la peau de mes amants, mais, l'amour... pas pour moi"_ seus olhos grandes me dizem de verdade que você sabe o que existe e o que não.
Um amor para sempre, ma belle? De verdade? É isso mesmo?
E o que a gente está chamando aqui de "pra sempre"? Algo que vá perdurar pela vida inteira? Além disso? Algo que vá nos fazer sofrer quando isso que é efêmero, isso que é transitório, isso que é carne, se for? Estamos falando do quê? De almas gêmeas? Alguma parte não mortal em nosso ser? Transcendência?
Por que você me sugere essas idéias, ma belle? Por que você me faz perguntas que sabe que só podem ser respondidas com outras ainda mais duvidosas e punitivas? Eu confio em você para não me respondê-las. Para me olhar, sorrir e dizer "é isso, né?" e marcarmos um chopp para aproveitarmos o gosto estranho e doce da pele de nossos casuais amantes conhecendo bem o risco disso.
Um amor para sempre, ma belle? Acho que nem na amizade, mas ainda é o que mais se aproxima disso, n'est-ce pas?

Nenhum comentário: