quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

CAUSA E INCONSEQUÊNCIA

Muitas coisas acabam ficando no imaginário coletivo como indissociavelmente relacionadas de um modo que chega a ser nocivo.
Ah, a tranquilidade de poder gostar sem querer para si é um conforto que poucos hoje sabem ter. O querer bem sem a necessidade do desejar é um tipo de liberdade de sentimentos tremendamente pacificadora.
Chego a pensar que talvez seja este o real significado do tal "desapego" que tantos por aí apregoam e que eu só consigo ver mensagens egoístas e hedonistas de desconsideração ao outro enquanto igual.
Aparentemente, as pessoas conseguiram desassociar o desejo do sentimento, mas só em uma via. Pode-se desejar sem querer vínculos, mas esquecem de qualquer possibilidade além, mesmo que seja um processo de três fatores: o gostar, o querer e o “não”. Assim (por favor, me corrijam os especialistas em cálculos de possibilidades), há pelo menos quatro grandes possibilidades, não apenas duas. E deve-se lembrar inclusive que, em qualquer uma das configurações possíveis, há que existir a concordância plena do outro, especialmente no “não”.
Gostar é bom, faz bem. Desejar também é bom. Acredito realmente que o problema não está no desejar, mas como isto tem sido propagado e feito. Como lidar com o querer em um mundo em que em que tudo é potência e explosão e que preconiza a posse e a auto-satisfação acima de tudo? É um exercício constante, mas quando dá certo, a alma voa.
Queria poder voar tantas vezes quanto me fosse possível, mas nem sempre posso negar ser eu também parte do hoje.

Por enquanto, me basta estar satisfeito em lembrar que gostar e querer não seguem uma relação obrigatória de causa e consequência.

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