quinta-feira, 16 de junho de 2016

Pitangus lictor

Quando a pedra se apaixona pelo pássaro, ela deve sempre lembrar que só o terá por alguns instantes, por muita sorte, se o pássaro resolver pousar sobre ela.

Se ela conseguir um meio de voar até ele, o matará.

À pedra, o quase imutável solo; ao pássaro, o ar, os galhos das árvores, talvez um ninho, mas sempre a brevidade.

Quando o pássaro se apaixona pela pedra, deve decidir se deixará nela alguma marca. E deve lembrar que, feita a marca, ela permanecerá.

Se ele um dia voltar a pousar sobre ela, ela se recordará. Mas não é dos pássaros lembrar.

Quando a pedra e o pássaro se apaixonam, eles continuam sendo uma pedra e um pássaro.

Não deveriam ser permitidos os sentimentos às pedras nem aos pássaros.

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